O processo de envelhecimento intrínseco é um processo que ocorre paralelamente ao envelhecimento de todos os órgãos. Depende do tempo, e resulta de danos endógenos provocados pela acumulação temporal de radicais livres de oxigénio, mas também e principalmente das características genéticas individuais. Ocorre uma degeneração da função tecidual, havendo várias alterações significativas ao nível estrutural da pele. O envelhecimento natural da pele advém de um conjunto de eventos tais como, a diminuição da capacidade de divisão celular, diminuição da síntese da matriz dérmica e um aumento do número de enzimas capazes de destruírem a matriz de colágeno, pois apesar de um grande reforço de mecanismos de defesa, os radicais livres de oxigénio (ROS), conduzem a danos significativos nas membranas celulares e proteínas, levando a alterações ao nível do DNA. Os telômeros, porções terminais dos cromossomos, estão diretamente implícitos no envelhecimento cronológico, pois tal como já foi comprovado, esta porção do DNA diminui de tamanho a cada divisão, o que conduz a uma capacidade de divisão limitada de uma célula. Verificou-se que, por exemplo, ao longo da vida de um adulto, mais de 30% do comprimento do telômero presente no cromossoma correspondente a células presentes na derme, como por exemplo nos fibroblastos, é perdido.
Existem estudos que apontam o declínio hormonal que ocorre ao longo da vida de um indivíduo como um fator igualmente influente do envelhecimento cutâneo. Verifica-se uma diminuição dos níveis de estrogênios na altura da menopausa, mas também da testosterona, di-hidroepiandrosterona (DHEA), cortisol, melatonina, tiroxina, hormona do crescimento, insulina. Verifica-se igualmente uma diminuição dos níveis de vitamina D ativa, afetando diretamente a homeostasia do cálcio. Estas alterações são significativas e justificativas para as alterações verificadas ao nível celular e estrutural da pele.
As manifestações visuais apresentam-se através de rugas, flacidez, perda de elasticidade e perda de expressões. Em alguns casos podem surgir melanomas benignos, dermatite seborréica e angiomas.
Fatores endógenos influentes para o envelhecimento intrínseco
A pele é um órgão em constante renovação concernindo-lhe a capacidade de executar múltiplas funções já mencionadas anteriormente. Existem, contudo zonas expostas como a face, mãos e pescoço as quais sofrem primordialmente ação de fatores exógenos (tabaco, poluição e principalmente radiação UV) e portanto desenvolverão sobretudo envelhecimento actínico, contudo as zonas menos expostas tal como o tronco, sofrem principalmente ação de fatores endógenos ou intrínsecos (predisposição genética, alterações hormonais, stress fisiológico) e portanto, desenvolverão envelhecimento cronológico ou intrínseco.
Fatores genéticos
A genética ocupa-se do conhecimento de genes, da hereditariedade e variabilidade dos seres. Graças à evolução dessa área, que tem vindo a ser possível a identificação e mapeamento de todo o material genético. Essa informação é possível de ser usada com a finalidade de retirar benefícios no tratamento do envelhecimento cutâneo e de conhecer melhor a influência dos genes no complexo processo que explica o envelhecimento cutâneo. Estudos recentes analisaram indivíduos com doenças hereditárias, designadamente, Síndrome de Down, de Werner’s, de Cockayne entre outros, e concluiu que há um aceleramento do envelhecimento havendo desordens mais precoces como alopécia, atrofia cutânea, telangiectasias (surgimento de capilares visíveis à superfície da pele), branqueamento do pelo. Através dessas evidências é possível perceber que a genética conduz a base do envelhecimento cutâneo desencadeando múltiplos processos e ao aparecimento fenotípico de marcas da idade.
Sistema endócrino – Importância dos hormônios
O processo de envelhecimento intrínseco tem vindo a ser constantemente atribuído às alterações (associadas à idade) do sistema endócrino. A pele, tal como todos os outros órgãos de um organismo, é controlada por um conjunto de hormônios, cujos efeitos continuam a ser descobertos. A título de exemplo, os folículos pilosos e as glândulas sebáceas são controladas por hormônios androgênicos, assim como os melanócitos são influenciados por hormônios segregados pela glândula pituitária existente no Sistema Nervoso Central (SNC). Estes são apenas alguns dos exemplos que correlacionam diretamente o sistema endócrino com o sistema tegumentar. Do ponto de vista dos dermatoendocrinologistas a pele não funciona apenas como um receptor de sinais provindos de longas distâncias, encontrando-se ela mesma organizada numa espécie de comunidade de células e organelas que recebem e enviam de forma coordenada mensagens que podem ter como destino zonas mais longínquas ou elas próprias. A título de exemplo, a DHEA que é convertida na pele em testosterona e em 5α-DHT ou 5α di-hidrotestosterona. Os hormônios androgênicos desempenham um papel fundamental para a pele, desde a influência no crescimento e na ativação das glândulas sebáceas (na adolescência), no crescimento capilar, na hemostasia da barreira epidérmica e na cicatrização de feridas. Todas estas funções são possíveis graças à existência de receptores androgênicos na pele. Alterações a nível destes receptores estão correlacionadas com o desenvolvimento de várias patologias como a alopécia androgenética (doença que afeta 80% dos homens e 50% das mulheres, caracterizada por perda de cabelo na zona frontal da nuca, o hirsutismo (desenvolvimento de pelos em excesso) e no envelhecimento cutâneo. Ao contrário dos hormônios masculinos, os hormônios femininos como a progesterona, não se encontram relacionadas com patologias cutâneas, tal facto é provado na prática pela utilização destes no tratamento das patologias anteriormente mencionadas, como o, hirsutismo ou acne.
A menopausa é um dos fatores mais importantes que conduzem a mulher a vários tipos de mudanças. O gênero feminino possui vários tipos de hormônios, nomeadamente, a progesterona, e os estrogênios. São os estrogênios os hormônios mais importantes ao nível cutâneo, influenciando diretamente a constituição e desenvolvimento do sistema tegumentar. O sistema tegumentar possui em cada uma das suas camadas (derme, epiderme e anexos cutâneos) receptores hormonais de estrogênicos e androgênicos, ainda que em mínimas quantidades, sendo que se encontram em maior concentração a nível facial e genital. A nível epidérmico encontram-se, sobretudo, concentrados na camada granulosa da epiderme. Estes hormônios são responsáveis pela estimulação da formação de fibras de colágeno e de mucopolissacarídeos como o ácido hialurônico, para além de permitirem simultaneamente uma maior hidratação cutânea (por estimularem a retenção de água) e controle da secreção sebácea (controlando diretamente a oleosidade cutânea) – influenciando, assim, as características do filme hidrolipídico (FHL). Na menopausa há uma perda quase total da capacidade de síntese de estrogênios conduzindo, obviamente, ao declínio dos seus níveis. Consequentemente, estudos comprovam que há um decréscimo de cerca de 2% por ano do conteúdo em colágeno na pele. Visivelmente, as manifestações ocorrem a nível labial havendo escurecimento dos lábios, perda de consistência (firmeza) e elasticidade da pele, iniciando-se o aparecimento de rugas.
Tudo se explica pela decadência da segregação de múltiplos hormônios. No caso feminino, há um decréscimo de estrogênios, principalmente o 17β-estradiol, da DHEA, progesterona e entre outras, enquanto a nível masculino ocorre um decréscimo sobretudo do fator de crescimento IGF (insuline-like growth fator 1). Este decréscimo é em ambos os casos proporcional ao avanço da idade. Um exemplo de hormônio que apresenta alterações nos níveis séricos de acordo já nos primeiros anos de vida de acordo com a idade é a melatonina, havendo um decréscimo dos 5 anos até aos 20 anos mantendo-se em fase estável até aos 75 anos. Seguidamente, há uma diminuição dos níveis séricos do fator de crescimento e da DHEA pelos 20 anos de idade. Por fim, ocorre a diminuição dos estrogênios (17β-estradiol) justificada pela menopausa. Aliás, é de evidenciar que atualmente existem mulheres administrando estrogênios como forma compensatória à menopausa, demonstrando resultados positivos que diz respeito a ingredientes ativos anti-envelhecimento.
Assim, o gênero feminino é desta forma, mais profundamente afetado devido à alteração hormonal decorrente da menopausa, o que não ocorre no gênero masculino. O gênero masculino usufrui de características morfológicas protetoras: uma pele mais espessa, maior estimulação androgênica (maiores níveis de testosterona) e maior teor de colágeno, o que permite com que as “marcas” surjam mais espaçadas no tempo.